Um desequilíbrio estrutural nas escolhas de especialização dos recém-formados em Medicina está a acentuar-se, gerando um alarme nas instituições de saúde do país. Dados recentes, veiculados pela SIC Notícias, revelam que as especialidades vitais para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) — Medicina Geral e Familiar (MGF) e Medicina Interna — registam uma crescente falta de interesse por parte dos jovens médicos.Em contraste, as vagas para áreas de grande procura e reconhecidas pela maior qualidade de vida e potencial de setor privado, como Oftalmologia e Dermatologia, esgotaram de imediato nos concursos de acesso ao Internato Médico. Este fenómeno espelha uma fuga das especialidades de "linha da frente", aquelas que suportam o grosso do trabalho nas urgências e garantem os cuidados primários da população.
O Apelo por Melhores Condições
A Associação Nacional dos Médicos de Família não hesita em apontar o dedo às condições laborais, afirmando que a elevada carga burocrática, os salários estagnados e o desgaste provocado pelos turnos e pelas exigências do SNS tornam a carreira de médico de família e internista menos apelativa.
"Se não houver um investimento sério na valorização remuneratória e na melhoria das condições de trabalho, continuaremos a assistir a esta debandada. Os jovens médicos procuram, legitimamente, qualidade de vida e dignidade profissional," defende um representante da associação.
A desertificação destas áreas essenciais prenuncia graves consequências para o futuro: mais utentes sem médico de família atribuído, sobrecarga nas urgências hospitalares e o risco de comprometer a qualidade da resposta a doenças crónicas e complexas, tradicionalmente geridas pela Medicina Interna. O setor da saúde clama por uma intervenção urgente que reestruture e valorize as carreiras nos cuidados primários e na medicina hospitalar essencial.