Um novo estudo sobre a perceção de segurança em Portugal revela uma dualidade preocupante: enquanto a proximidade de casa e a comunidade local são vistas como "últimos redutos" de segurança, a desconfiança na justiça atinge níveis alarmantes, dissuadindo as vítimas de crime de apresentarem queixa.O trabalho, apresentado recentemente em Lisboa, aponta que apenas um em cada dez portugueses se sente inseguro na sua área de residência. Contudo, essa sensação de segurança é inversamente proporcional à distância: "Quanto mais longe da nossa rua, mais perigoso parece o mundo", sublinham os autores.
O Pico do Crime e o Silêncio das Vítimas
Os dados do inquérito demonstram que 9% dos inquiridos foram vítimas de crime nos últimos 12 meses, "o valor mais alto desde 2012". O dado mais inquietante, porém, reside na taxa de subnotificação: mais de metade das vítimas não formalizou queixa. A principal razão apontada para este silêncio é a "falta de confiança na justiça".
Os investigadores alertam que este "défice de confiança é difícil de erradicar", mesmo entre aqueles que consideram participar crimes no futuro.
Ameaças e Refúgios
No panorama das ameaças, o cibercrime emerge como a segunda maior preocupação de segurança, ficando apenas atrás da criminalidade violenta.
Já o lar continua a ser o grande refúgio: 92% dos inquiridos sentem-se seguros em casa durante o dia. Em contraste, a insegurança dispara nos transportes públicos à noite (apenas 6% sentem-se seguros) e em locais como estádios e zonas de diversão noturna (11%).
A Pitagórica, responsável pelo estudo (com uma margem de erro estimada de 4%), conclui que, apesar de Portugal ser classificado como um dos países mais seguros da Europa "no papel", a "perceção de insegurança é uma ferida mais social do que factual". É este sentimento, mais do que os números reais, que leva os cidadãos a "olhar por cima do ombro", mesmo quando afirmam que "está tudo bem".