Bruxelas — Os aliados da NATO mostraram-se esta semana divididos sobre se a aliança deve recorrer à força para repelir futuras violações do seu espaço aéreo por aviões russos, depois de três caças russos terem entrado no espaço aéreo estónio durante 12 minutos na semana passada.
A questão esteve no centro de uma reunião de emergência do Conselho do Atlântico Norte, convocada pela Estónia. Países do flanco leste — entre os quais a Polónia e os Estados Bálticos — defendiam que a declaração conjunta resultante deixasse claro que futuras transgressões, incluindo por aeronaves tripuladas, seriam enfrentadas com força. Outros membros, nomeadamente a Alemanha e alguns Estados do sul da Europa, pediram contenção para evitar uma escalada desnecessária.
A declaração final, aprovada pelos 32 membros, optou por um texto intermédio: reafirma que a NATO e os seus aliados usarão, em conformidade com o direito internacional, todos os instrumentos militares e não militares necessários para se defenderem e dissuadirem ameaças, respondendo “da forma, no momento e no domínio que escolherem”.
Alguns responsáveis militares sublinharam também diferenças de avaliação sobre a natureza dos incidentes. O Comandante Supremo Aliado na Europa afirmou que a incursão na Estónia poderá ter sido acidental, apontando para possíveis lacunas na formação dos pilotos russos — opinião que gerou cautela entre vários aliados. Outros, especialmente os más próximos da Rússia, defendem que Moscovo tem de arcar com as consequências de comportamentos cada vez mais arriscados.
A escalada de tensões inclui, nas últimas semanas, ataques com drones que atingiram território polaco — alguns dos quais abatidos por forças da NATO — e sobrevoos não autorizados na Estónia e perto de navios alemães no Mar Báltico. Polónia e Estónia exigem respostas mais firmes; o ministro polaco alertou que, se um avião violar o espaço aéreo e for abatido, não aceitará depois queixas por parte de quem infringiu as fronteiras.
Por outro lado, a Alemanha apelou à prudência, advertindo para o risco de “armadilhas de escalada” e defendendo que a contenção não é sinónimo de fraqueza, mas de responsabilidade para com a paz na Europa. Também o Presidente finlandês pediu firmeza medida: não exagerar, mas ser suficientemente determinado.
Do lado dos EUA, comentários do Presidente Donald Trump — que se mostrou a favor da ideia de abater aviões russos que violem o espaço da NATO — foram descritos por fontes da aliança como “um comentário do momento” e não como pressão para alterar a política conjunta. No terreno, militares lembram que abater drones é tecnicamente mais simples e de menor risco do que abater aviões tripulados, operação que comporta um potencial de escalada humanamente perigoso.
O episódio deixou claro que, apesar da retórica de unidade, existe entre os aliados um debate aberto sobre até que ponto a NATO deve militarizar a sua resposta a provocaçãoes aéreas, numa altura em que Moscovo continua a testar os limites das defesas europeias.